segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Primeiro Trauma

Quando eu tinha uns 8 anos de idade, as meninas da minha sala me disseram que no dia seguinte era para vir com nossa melhor roupa.

"Por que?", perguntei eu.

"Porque faremos um desfile de moda para os meninos."

Eu sempre fui meio distraída, não tinha ouvido falar nada daquilo durante o dia, mas aceitei sem pensar muito.

No dia seguinte, quando minha mãe foi escolher a roupa para eu ir na escola, pedi para ir com o vestido que eu ia na missa, aos domingos.

Lembro até hoje desse vestido. Azul claro, de alça, drapeado na altura dos seios que eu claro ainda não tinha, e babado na saia. Não sei se o achava lindo, mas era a roupa mais diferente que eu tinha, era "a roupa de ir na missa no domingo", então definitivamente minha melhor roupa.

Minha mãe me perguntou a razão, eu expliquei, ela não disse nem que sim nem que não, e assim eu fui.

O desfile foi na hora do recreio. No meio do pátio, formou-se um corredor cercado por meninos dos dois lados. As meninas simplesmente andavam pelo corredor.

Eu não tinha expectivativas. Não sabia direito o que eu ganharia com aquilo, mas aceitei a afirmação de que toda menina desfilaria e fui lá fazer a minha parte.

Uma menina desfilou e foi aplaudida. A segunda recebeu assovios. A terceira recebeu o silêncio. Eu ainda estava pensando na diferença de receptitividade quando chegou a minha vez.

Fui sumariamente vaiada. Demorei para entender que aqueles gritos era minha primeira demonstração de rejeição. Apenas quando saí do corredor, uma menina me disse: eles não gostaram de você.

Foi a primeira vez que me senti injustiçadamente julgada. Estava vivendo a minha vidinha, não incomodava ninguém, e de repente descobri que os meninos da minha escola não gostavam de mim.

Claro que uma análise mais profunda dessa história dá muito, mais muito mesmo, pano pra manga, mas vamos ficar com a primeira lição que tirei dela:

"Não sabia que a opinião dos outros sobre minha aparência poderia ter um peso maior do que a minha própria opinião."